quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

seven simple rules for life in hiding

One...
    Never trust a cop in a raincoat.

Two...
    Beware of enthusiasm and of love.
    Each is temporary and quick to sway.

Three...
    When asked if you care about the world's problems,
    look deep into the eyes of he who asks.

    He will not ask you again.

Number four and five...
    ...never give your real name.
    And if ever told to look at yourself...
    Never look.

Six...
    Never say or do anything the person standing in front of you cannot understand.

And seven...
    Never create anything.
    It will be misinterpreted.
    It will chain you and follow you for the rest of your life.
    And it will never change.


Extraído do filme Não Estou Lá (I'm Not There) [2007] de Todd Haynes.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

eles e eu

Quem sou eu, afinal de contas? A imagem refletida no espelho, as sinapses explodindo atrás dos meus olhos ou a foto sem sorriso estampada no meu currículo? Tenho pensado muito sobre isso e, como é comum acontecer, não tenho chegado a resposta nenhuma. O Que importa para o mundo, para a sociedade: o que eu sei ou o que eu sou? O que eu gosto de fazer é realmente relevante em contrapartida ao que eu sei fazer? As pessoas tem a audácia de me olhar de cima a baixo e me dizer quem eu sou. Elas pensam que podem me ler, como se eu fosse um simples papel dentro de um biscoito da sorte. Eles não podem. Não importa quantos psicólogos, terapeutas ou antropólogos eles tragam. Não importa quanta experiência eles tenham. São apenas cegos quando olham para mim (ou para qualquer outro) e desenham qualquer coisa, simplesmente para negar a própria natureza incapaz.
Eles me perguntam o que eu quero, o que eu espero, o que eu vejo quando olho para mim mesmo, e me fazem desenhar tudo isso, me fazem expor a nudez dos meus pensamentos apenas para me dizer que eu estou errado, que eu não sou o bastante para sua elite fétida e decadente. Então eles me fazem sentir como se eu estivesse implorando por sua misericórdia. Me seguram contra  parede e violentam minhas esperanças e espancam meus sonhos até a morte. E a eles eu digo: eu não preciso de sua misericórdia imunda. Eu não sou um filhote numa vitrine de um pet shop, e não vou mais permitir que me valorizem pela cor dos meus dentes.
Confesso que parte de mim se sente assustada em escrever essas palavras, e mais ainda, em torná-las públicas. Essa parte tem medo de represálias futuras. Medo de que algum deles leia e julgue isso demasiadamente ofensivo. Mas essa parte de mim eu simplesmente desprezo, pois é parte que se cala quando vê algo errado, é a parte covarde e mesquinha. É a parte minha que eu nem mesmo gosto de chamar de eu. Para ela eu digo: que leiam! Que tirem suas conclusões infames, que me julguem e me condenem (ou me inocentem)! Que façam o que diabo eles quiserem fazer. Eu já não me importo mais.
Estou cansado de ser vítima de um sistema que nos humilha, aliás, faz com nós mesmos nos humilhemos ou imploremos para ser humilhados, o que é infinitamente pior. Não tenho a ousadia de me considerar um transgressor, e nem quero ter. Não sou rebelde, já passei da idade de ser rebelde, mas eu prefiro ser um conformista relutante a ser simplesmente um conformista, o que para mim nada mais é do que um eufemismo para ignorante. Então que todos se entreguem a podridão, que todos se encham de orgulho ao finalmente encontrar o seu encaixe como uma engrenagem numa máquina imensa: uma engrenagem que gira sempre na mesma velocidade e no mesmo sentido. Que se encham de dinheiro para comprar todas as coisas que não precisam e engasguem com toda a comida que não cabe em seus estômagos.
Eu continuarei aqui, eternamente me humilhando; lambendo o chão atrás das migalhas nojentas que eles raramente deixam cair...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

crossroads

Entrei no meu quarto um dia desses e encontrei o velho LP do Blues Etílicos “Água Mineral”, de 1989. Coloquei-o no toca-discos. Uma das faixas me chamou a atenção, não que eu não a tivesse ouvido antes, pelo contrário, uma das minhas favoritas, mas foi o seu compositor, indicado no envelope do disco: Robert Johnson. “Crossroads” A faixa em questão, originalmente intitulada “Cross Road Blues” gravada por Robert Johnson em 1936, e lançada um ano depois, é uma das mais importantes canções da história do blues e do rock. Resolvi ouvir a versão original (no PC mesmo, com a qualidade que se espera de um mp3 de 128 Kbps), e compreendi o porquê da relevância cultural dessa música. Apesar de a gravação original ser bastante precária (antiga, para dizer com um pouco mais de eufemismo), ela exemplifica toda razão do blues, todo o feeling que fica a flor da pela nas gravações de Muddy Waters, John Lee Hooker, Willi Dixon, Tommy Johnson, entre outros grandes nomes. Não sinto receio algum ao dizer categoricamente que a maior parte da produção musical que se seguiu nas sete década que vieram, e aqui eu me refiro ao rock e suas variantes, ao pop, ao funky (o original), ao black music, ao soul, talvez até ao gospel, e por aí vai em etc, etc, etc..., tem se não um, os dois pés naqueles dois minutos e meio eternizados naquele outono em San Antonio.
Confesso que parte de mim ficou triste, ao perceber que, apesar de tudo, “Cross Road Blues” é um gigante desconhecido, empoeirado e lembrado apenas por alguns que desejam saber mais sobre aquilo que deixa entrar em seus ouvidos. Acredito que existem certas canções que deveriam ser ouvidas por todas as pessoas, especialmente por nós, brasileiros, com nossa cultura tão fortemente influenciada pela norte-americana. Não tenho a pretensão de dizer às pessoas o que é bom ou ruim; o que presta e o que não presta. Mas eu, citando a analogia que ouvi certa vez em algum lugar (já não me recordo onde), penso que música é como bebida: existe coca-cola e existe Uísque Escocês tipo pure malt, cada um decide o que desce pelo seu esôfago...
          E eu juro que tenho vontade de chorar quando eu vejo que as sete décadas de história e evolução musical que se seguiram a partir de Johnson, culminaram naquele aborto que as pessoas chamam de hardcore, emocor e happy rock.
É basicamente isso. Se alguém se interessar ou gostar de blues, abaixo seguem uma lista de álbums e artistas que merecem ser ouvidos.

- King Of The Delta Blues Singers - coletânea de Robert Johnson
- Complete Rec. Works(1928-1929) - Tommy Johnson
- Mr. Lucky – John Lee Hooker 
- Água Mineral e Salamandra - Blues Etílicos
- Electric Mud – Muddy Waters 
E também a versão de Crossroads do Cream, de 1968.


E ainda tem muita coisa que nem cabe aqui...



porque nada jamais foi a mesma coisa depois daquela noite na encruzilhada da 61 com a 49...