... You’ve Stared at The Sun.
Certa vez meu professor de espanhol resolveu traçar breves perfis de seus já entediados alunos. Um a um, ele foi descrevendo com poucas palavras e quase nenhuma razão. Eu, 14 anos, calado, cabeludo, no fundo da sala, estremeci quando ele apontou para mim. Olhei para seus olhos distorcidos atrás dos óculos e notei o suor escorrendo pela cabeça careca. Todos se viraram para mim quando ele disse que não sabia dizer nada sobre mim e que, aparentemente, eu era uma incógnita. Vi um grande "x" na minha cara e voltei pra casa pensando. A idéia me encantava, era como um daqueles cowboys intrépidos dos filmes, com expressões faciais ilegíveis. Mas por mais deleitoso que aquele pensamento fosse, eu na verdade não era incógnita alguma. Eu nunca fora.
Eu sei que disse que não falaria de mim, mas é preciso que eu me justifique, do contrário, esse blog simplesmente não tem sentido. Afinal, ele perde a razão de existir, quando sua principal função é contraditória a conduta de quem o escreve. Afinal o que se espera ouvir de alguém que não tem nada a dizer? Se a resposta for nada, então esse blog não falará de nada. E para falar de nada eu não preciso de um blog... eu não preciso de nada. Esse é o porquê desse post: dizer que, ao contrário do que deixo transparecer, eu tenho algo a dizer.
Mas passando por esse parágrafo metalinguístico, podemos continuar na estrada principal, sem mais desvios. Já me perguntaram incontáveis vezes o porquê do meu eterno silêncio. Nunca soube responder, e ainda não sei; mas sei que não faz diferença, de onde observo o mundo, pelo menos para mim. Acredito que as palavras tem vida, mas não uma vida simplória e breve como a nossa, acredito que as palavras foram feitas para durar eternamente, ou pelo menos pelo maior tempo possível. E as palavras ditas se desintegram no ar, com a mesma velocidade que passa o segundo em que elas foram ditas. E a única maneira de elas permanecerem é sendo gravadas na memória de quem as ouve ou no papel de quem as escreve. Mas isso raramente ocorre...
E essa é a razão pela qual eu troco a distância entre minha boca e seus ouvidos pela distância entre meus dedos e seus olhos. Admito a hipocrisia de blogar o segredo do meu próprio disfarce: o “x” sobre meu rosto que, muito recentemente, percebi que sempre esteve pelo lado de dentro. Mas isso são apenas palavras que não precisam desaparecer, não cedo demais. E na falta de uma boa frase de encerramento, eu me limito à praticidade das reticências...
Um comentário:
"PARABÉNS" é tão clichê, quando penso em toda a sua capacidade de reflexão e "perturbação".
Assim, posto toda essa "melação" - a qual você não aguenta mais receber - apenas para ratificar que é sempre muito bom passear por aqui.
Abraços!
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