É estranho como as palavras parecem se distorcer no papel após escorrer da minha mente. Estranho e às vezes até engraçado. Pode ser alguma maldição inexplicável essa prolixidade inevitável que permeia as linhas e as entrelinhas desses parágrafos. Isso me faz duvidar também do que eu escrevo, ou do que eu penso; afinal de contas eu não sei dizer ao certo o que é mais verdadeiro. Entre o concreto e o abstrato existe uma diferença maior do que a própria matéria. Talvez sejam apenas as contradições entre ideias e planos, sonhos e realidades... Conjecturas e fatos! Não desconfio das minhas mãos quando elas escrevem, desconfio do meu cérebro quando ele pensa. Eram as velhas e terríveis nuvens que flutuam em minha mente; ou pelo menos eu apenas pensava assim.
Mas ainda não cheguei ao ponto que eu queria. E o mais triste é que talvez eu nunca chegue. Como eu disse, não há como evitar a discrepância de valores e significados entre o que eu penso e o que escrevo; entre o que eu vejo e o que eu sinto; entre o que eu percebo e o que eu entendo. Azul nem sempre é azul e flores nem sempre tem o perfume que nós esperamos que elas tenham. O mais bizarro é que isso vai além do universo egoísta enterrado em baixo das camadas e mais camadas (cada vez mais espessas) da minha pele. É provável que se estenda para além dos infinitos olhos e ouvidos das multidões, além do silêncio sepulcral das vielas abandonadas e do cinza triste dos quilômetros e quilômetros de cidades e estradas asfaltadas.
Talvez tenha sido o melhor dia da minha vida, quando descobri (ainda não sei se cedo ou tarde demais) que as contradições não estavam em mim, mas sim em todos os lugares onde eu ousava colocar meus pés.
Foi um grande alívio; tirar o peso do universo das costas.
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