Entrei no meu quarto um dia desses e encontrei o velho LP do Blues Etílicos “Água Mineral”, de 1989. Coloquei-o no toca-discos. Uma das faixas me chamou a atenção, não que eu não a tivesse ouvido antes, pelo contrário, uma das minhas favoritas, mas foi o seu compositor, indicado no envelope do disco: Robert Johnson. “Crossroads” A faixa em questão, originalmente intitulada “Cross Road Blues” gravada por Robert Johnson em 1936, e lançada um ano depois, é uma das mais importantes canções da história do blues e do rock. Resolvi ouvir a versão original (no PC mesmo, com a qualidade que se espera de um mp3 de 128 Kbps), e compreendi o porquê da relevância cultural dessa música. Apesar de a gravação original ser bastante precária (antiga, para dizer com um pouco mais de eufemismo), ela exemplifica toda razão do blues, todo o feeling que fica a flor da pela nas gravações de Muddy Waters, John Lee Hooker, Willi Dixon, Tommy Johnson, entre outros grandes nomes. Não sinto receio algum ao dizer categoricamente que a maior parte da produção musical que se seguiu nas sete década que vieram, e aqui eu me refiro ao rock e suas variantes, ao pop, ao funky (o original), ao black music, ao soul, talvez até ao gospel, e por aí vai em etc, etc, etc..., tem se não um, os dois pés naqueles dois minutos e meio eternizados naquele outono em San Antonio.
Confesso que parte de mim ficou triste, ao perceber que, apesar de tudo, “Cross Road Blues” é um gigante desconhecido, empoeirado e lembrado apenas por alguns que desejam saber mais sobre aquilo que deixa entrar em seus ouvidos. Acredito que existem certas canções que deveriam ser ouvidas por todas as pessoas, especialmente por nós, brasileiros, com nossa cultura tão fortemente influenciada pela norte-americana. Não tenho a pretensão de dizer às pessoas o que é bom ou ruim; o que presta e o que não presta. Mas eu, citando a analogia que ouvi certa vez em algum lugar (já não me recordo onde), penso que música é como bebida: existe coca-cola e existe Uísque Escocês tipo pure malt, cada um decide o que desce pelo seu esôfago...
E eu juro que tenho vontade de chorar quando eu vejo que as sete décadas de história e evolução musical que se seguiram a partir de Johnson, culminaram naquele aborto que as pessoas chamam de hardcore, emocor e happy rock.
É basicamente isso. Se alguém se interessar ou gostar de blues, abaixo seguem uma lista de álbums e artistas que merecem ser ouvidos.
- King Of The Delta Blues Singers - coletânea de Robert Johnson
- Complete Rec. Works(1928-1929) - Tommy Johnson
- Mr. Lucky – John Lee Hooker
- Água Mineral e Salamandra - Blues Etílicos
- Electric Mud – Muddy Waters
E também a versão de Crossroads do Cream, de 1968.
E ainda tem muita coisa que nem cabe aqui...
porque nada jamais foi a mesma coisa depois daquela noite na encruzilhada da 61 com a 49...